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Eli Heil-Uma artista Palhocense

Eli Malvina Heil nasceu em 05/06/1929, na Barra do Aririú, Palhoça/SC. Extrovertida, desde cedo participava e inventava peças teatrais e cantava na igreja. Antes de se dedicar integralmente à atividade artística lecionou aulas de Educação Física em escolas da região da grande Florianópolis. Teve dois filhos. No final da década de 1950 permaneceu cinco anos acamada, dizia ter uma gravidez mental. Nos anos 1960, começou a se recuperar da longa enfermidade, ocasião em que o irmão lhe dera de presente um quadro de um artista local. “Mas isto também faço”, disse ela prontamente, despertando-se para o protagonismo das artes. Foi o nascimento do ovo que borbulhava no seu interior. Autodidata, Eli começou a desenhar, em 1962, desenvolveu a Pintura, Escultura, a Cerâmica e Literatura. Não se adaptou ao pincel convencional por ser macio demais. Inventou sua própria técnica ao espalhar a tinta diretamente sobre a tela, e com ajuda de um material pontiagudo de couro, tal qual uma agulha para bordar, moldava figuras humanas, coisas e animais em meio a uma paisagem futurista, movimentada de cores e formas tortuosas. O trabalho de escultura em argila, em cimento colorido ou garrafas de plástico derretidas no seu fogão, triunfam em forma de seres da estranha flora, chamados de meus “monstrinhos” nascidos da mediunidade. A mistura de tinta aos materiais descartados, como os saltos de sapatos, garrafas de plástico, tubos de tinta, canos de PVC e outros materiais surpreendem. Os sentimentos da alma da artista, aflorados ganham vida, assim descrito em seu livro “Vomitando os Sentimentos”: “A arte para mim é a expulsão dos seres contidos, doloridos, em grandes quantidades, num parto colorido”. Suas criações transformadas em cores vibrantes imita as cores do arco íris; têm viés expressionista, às vezes surrealista, onde casas e morros imaginários passam por um processo denominado “vômitos de criações”. Eli Heil participou de inúmeras exposições no Brasil e no exterior, tendo seu trabalho “Mito e Magia”, registrado e catalogado oficialmente como “arte incomum” (Art Brut) na 16ª Bienal Internacional de São Paulo. A artista plástica costumava dizer: “[...] O processo criativo e a técnica despejam-se de dentro de mim, como fios coloridos, prontos para serem executados[...]”, ela mesma caracteriza seu pavio criador um dom outorgado por Deus, um espiral obsessivo que é transformado por meio dos ‘vômitos de criações’ [...] gerando seres e mais seres para a continuação da espécie Arte [...]”. Seu legado artístico se encontra instalado desde o dia 7 de março de 1987 num Museu a céu aberto, o qual tive o prazer de conhecer na comunidade açoriana de Santo Antônio de Lisboa, às margens da BR SC-401, Florianópolis. Nas suas criações, o ovo é o símbolo da vida, e dá nome ao grande palco denominado “O Mundo Ovo de Eli Heil”. Na interpretação da artista: “surgiu quando houve a explosão do meu cérebro, juntamente com a explosão do meu ovário. Pluf, pluf, pluf, já nasci, já nasci, já nasci. Ovo, óvulo, ovário”. Toda essa riqueza imaginativa está disponível em exposição permanente com mais de três mil obras para visitação na “Sala de Exposição”. Sobressai um conjunto de obras denominado “Jardim Paraíso”, um conjunto de esculturas espalhadas pelo jardim da casa onde morava. O “Anjo Pássaro”, um Pássaro Colorido de 5m altura pousado sobre um enorme ovo é o monumento mais importante do acervo. Adão e Eva, recepcionavam os visitantes no portal do Jardim do Éden até que algo desagradável aconteceu com eles. Eli chora inconsolável a destruição bárbara dos seus símbolos pelo poder público, cuja justificativa era alargar uma estrada de rodagem. No entanto, em protesto, a artista criou na entrada do Museu o “Cemitério de Adão e Eva” protegidos por seres guardiões do espaço. Eli Heil desenhou e pintou sonhos, esboçou alegrias, tristezas e esperança nas suas obras e transformou percepções em versos. “Criar eu quero. / A cria me dá vida! / Eu, se não crio / Viro mancha deprimida”. Em loucura consciente escreve: “Estou como uma criança, / Brincando no jardim de infância / Só que elas brincam e eu crio / Para obter aquela esperança [...]”. Em outra estrofe a artista suplica: “Meu Deus, eu sou humana! / Não posso sufocar dentro do peito tanto amor, sufocando a cada momento a vontade louca de gritar por socorro / Nem isso eu tenho direito[...]”. Eli Heil, faleceu em 2017, aos 87 anos em Florianópolis/SC. A artista projetou as artes visuais catarinenses a nível nacional, contribuiu com um legado inconfundível gestado na sua percepção apurada. O acervo da artista permanece sob os cuidados da Fundação “O Mundo Ovo de Eli Heil”, instituída em 1993.
Por Neusa Bernado Coelho-Escritora - Historiadora- Membro IHGSC

Fontes Pesquisadas: Museu O Mundo Ovo de Eli Heil - Museu Morre a artista plástica Eli Heil, expressão máxima das artes visuais de SC - Portal de Notícias (estado.sc.gov.br) Vomitando os Sentimentos- Fundação O Mundo Ovo de Eli Heil, 1999, 144p.

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