O que é o Inconsciente?
Em um sentido mais amplo o conceito de inconsciente é muitas vezes difundido como que apontando para todos aqueles processos mentais que ocorrem sem que a pessoa se dê conta, simplesmente aquilo que está fora da consciência. Apesar do termo inconsciente está intimamente vinculado ao nome do pai da psicanálise, Sigmund Freud, já existiam algumas concepções sobre o inconsciente antes dele. Schopenheuer por exemplo, já falava em inconsciente, assim como inconsciente era também uma palavra que já aparecia na poesia alemã, no romantismo alemão, nesse movimento cultural surgido no final do século XVIII. Podemos dizer o que Freud faz é descobrir do inconsciente as suas leis, as suas propriedades e as suas formas de manifestações e regularidades a partir de sua pesquisa e prática clínicas.
Uma metáfora muito utilizada para se ilustrar o conceito de inconsciente é aquela do iceberg onde a parte que fica visível, representa apenas um pequeno pedaço de sua real dimensão, mas que a sua maior parte, essa verdadeira extensão, está submersa, escondida nas águas e nessa direção, o inconsciente seria então esse pedaço submerso e insondável. O conceito de inconsciente encontra-se intrínseco ao nome de Freud e à psicanálise de tal maneira que se pudéssemos resumir em uma palavra tudo o que se refere ao saber psicanalítico, não seria nenhuma surpresa, se essa palavra fosse o próprio inconsciente.
É no final do século XIX e na primeira metade do século XX que Freud elabora a sua teoria psicanalítica a partir de uma “práxis”, partindo de uma prática incansável no seu trabalho inicialmente direcionado para a histeria. E é desse ponto de partida e experiência de trabalho que o inconsciente vai penetrando de maneira contundente na cultura ocidental e na ciência, em alguns momentos sendo utilizado para se apreender os vários sinais do comportamento humano e em outros sendo banalizado e também ignorado em nome da consciência, essa consciência que é apontada por Freud como apenas uma pequena parte do nosso ser.
Em seu texto “o Inconsciente”, de 1915, Freud vai dizer que “contradizer o inconsciente seria, em vista de todas as nossas lembranças latentes, algo inteiramente inconcebível. ” Freud vai citar que “o âmago do inconsciente consiste de representantes pulsionais que querem descarregar seu investimento, sua energia de impulsos de desejos recalcados. Ao mesmo tempo adverte que o inconsciente não é apenas aquilo que é recalcado. Com Freud, o inconsciente não se trata apenas de algo escondido e submerso mas aponta para essa face do humano que ao mesmo tempo é estranha e familiar.
Direciona o farol par para uma divisão, uma clivagem entre aquilo que é da ordem da consciência e aquilo que é da ordem do desconhecido de si mesmo. Podemos conceber o inconsciente, freudianamente falando, enquanto afetos escritos no organismo biológico e que fazem corpo. E o que poderíamos chamar de afeto, senão tudo aquilo que afeta o corpo? Por outro lado, podemos também dizer que o próprio corpo é também afetado pelo inconsciente. O inconsciente é um estranho que nos habita, por desconhecê-lo e dele não termos uma consciência plena. Parodiando o poema do Drummond, “há uma pedra no meio do caminho”, poderíamos comparar o inconsciente enquanto uma pedra que está colocada no meio do caminho de cada um de nós. Outra forma de dizer sobre o inconsciente é dizer que ele é aquilo que está em nós, seres falantes, mas que nunca se esvai.
Uma das formas que Freud aborda o inconsciente é a partir dos atos falhos. Freud define o ato falho como uma das formações do inconsciente e vai observar que os atos falhos e suas diversas possibilidades é uma forma de apresentação do inconsciente em nós, uma forma de como o inconsciente se apresenta para nós, seres da linguagem. Uma das maneiras pelas quais um ato falho pode se apresentar é quando por exemplo, uma pessoa vai falar uma determinada palavra e no lugar de uma palavra que eu tenho a intenção de falar, eu vou e falo outra, ou seja, essa palavra que intenciono falar escapa da minha boca sem “a minha intenção”. Uma outra possibilidade de ato falho pode ser quando eu vou chamar uma pessoa pelo seu nome eu acabo trocando o nome dessa pessoa por um outro nome, ou mesmo quando eu guardo algum objeto em um lugar habitual e no qual eu não haveria risco de me esquece e em determinado momento esse objeto não está lá porque eu “me enganei” e o coloquei em um outro lugar. Nesse sentido, os atos falhos, essas formações do inconsciente, são esses tropeços, é aquilo que irrompe em nós mesmos e que traz para nós uma surpresa, seja com relação a fala, em relação as ações, etc. Freud vai dizer que os atos falhos têm uma íntima relação com o inconsciente, que são uma forma de apresentação do inconsciente em nós, pois isso que me pega de surpresa isso que pode me levar ao avesso. Isso que lhe pega de surpresa e que pode lhe levar ao seu avesso ao ponto de você se perguntar o que é que isso que eu desconheço? O que é que é isso que fala em mim? Isso que está se manifestando em mim, é o que? O que tem a ver comigo? O que é essa pedra no meio do caminho? Isso é uma forma de apresentação do inconsciente.
O inconsciente então é isso que nos atravessa e que nos causa uma certa estranheza em nós mesmos sobretudo em relação aquilo que eu achava muito estável, muito assegurado na consciência, então nesse sentido podemos dizer que o inconsciente é um estranho que habita os espaços mais familiares em relação a nós mesmos. Um processo de análise, a partir da fala e livre associação, se direciona para trabalho dos conteúdos inconscientes que muitas vezes adoecem o corpo e nos impedem de viver uma vida produtiva e prazerosa.
O psicanalista francês Jacques Lacan vai dizer a partir de Freud, que o inconsciente é estruturado como uma linguagem? O que isso quer dizer para nós, seres falantes? Que linguagem é essa?
É sobre isso que trataremos no próximo texto. Até lá!
*Antonio Roberto da Silva é psicanalista, membro da Maiêutica Florianópolis Instituição Psicanalítica, fundador do Projeto Social Polis Care em Santa Catarina, um projeto que envolve diversos profissionais, psicólogos e psicanalistas que ampliam o atendimento psicológico à camada menos privilegiada da população, direcionado para estudantes e pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Atende como psicanalista em clínica particular e também pelo Projeto Social nas cidades de São José, Palhoça.
Coordena grupos de leituras comentadas dos textos freudianos e lacanianos na modalidade on line pelo Espacio Psi.
Contatos para o Projeto Social Polis Care:
Whatsapp: (48) 99603-8856
poliscare@gmail.com