Mais um final de ano está chegando e como todos os outros, temos uma tendência fazer uma avaliação do ano que passou e projetar o próximo ano. Alguns dizem que fazem um balanço de suas vidas. Interessante pensar nessa palavra balanço, que em um primeiro momento nos leva a pensar que estamos lidando com nossas vidas tal qual um negócio, uma empresa, já que uma empresa também faz o seu balanço, o tal balanço patrimonial. Teríamos mesmo que fazer esse balanço a cada ano? Teria sido o ano que passou um ano que atendeu as expectativas, com projetos realizados, com metas alcançadas ou um ano ao qual se deu valor à vida, agarrando-se aos laços afetivos para reinventar novas maneiras de viver e lidar com o mal-estar? Teria sido um ano decepcionante, onde os objetivos pessoais e profissionais não foram alcançados, ou um ano ao qual ficamos agarrados ao sofrimento de tal maneira que a vida estagnou? Foi um ano no qual cuidamos de nós mesmos ou simplesmente nos deixamos consumir pela dor?
Para além do acerto de contas consigo mesmo, do que se ganhou ou do que se perdeu, do que se “fez certo” ou se “fez errado", daquilo que se teve orgulho, ou foi decepcionante, devemos nos lembrar que a palavra balanço nos remete também, ao brinquedo, ao brincar, ao lúdico, aquele brinquedo que consiste em um assento suspenso por cordas ou correntes fixas num suporte e que permite a realização de movimentos oscilatórios, para o alto e para baixo, para o alto e para baixo, repetidamente...movimento que nos convida a refletir sobre o movimento da vida, ora estamos bem, ora não estamos, ora estamos alegres, ora estamos tristes, ora estamos presentes, ora estamos ausentes...mas não para todos, que ora podem estar permanente e ansiosamente felizes ou permanente e melancolicamente tristes...afinal, como já se diz por aí ”tome cuidado com o vazio de uma vida ocupada demais". Podemos dizer que são estados variados para cada um, de acordo com a sua história singular, e que muitas vezes e não poucas, oscilam entre a vida e a morte.
Não gosto da ideia de pensar a vida como uma máquina produtiva, ou mesmo como um investimento financeiro. Penso que não devemos medir nossos sonhos ou conquistas na vida por meio da competição e comparação com os outros. Cada história é uma história e, para cada um, o sonho a realizar é singular. Competições e comparações excessivas nos leva a sentimentos de infelicidade e de baixa autoestima. Isso muitas vezes nos afasta muito da realidade, fazendo-nos acreditar em algo bem distante do que verdadeiramente somos e é claro, gera muito sofrimento.
Balancear a vida não como um balanço patrimonial, mas como um brinquedo experimentando de forma lúdica e quem sabe humorística, os prazeres e desprazeres que ela nos apresenta, não seria uma saída para o mal-estar a ser inventada por cada um, a cada ano? Afinal, como já disse em outra oportunidade, o pulsar da vida está no desejo, no desejo de viver, no desejo de desejar mais e mais e assim fazer a roda da vida girar! Se como aponta Lacan que o desejo é um remédio para a angústia, também nos diz o poeta Guimarães, cujo sobrenome é perfumado e todos nós conhecemos, que ”viver é um rasgar-se e remendar-se!”
Nesse sentido, que 2023 seja um ano de muitos rasgos e remendos singulares, reinventados por cada um.
Boas festas !!!
*Antonio Roberto da Silva é psicanalista, membro da Maiêutica Florianópolis Instituição Psicanalítica, fundador do Projeto Social Polis Care em Santa Catarina, um projeto que envolve diversos profissionais, psicólogos e psicanalistas que ampliam o atendimento psicológico à camada menos privilegiada da população, direcionado para estudantes e pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Atende como psicanalista em clínica particular e também pelo Projeto Social nas cidades de São José, Palhoça.
Coordena grupos de leituras comentadas dos textos freudianos e lacanianos na modalidade on line pelo Espacio Psi.
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