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O Nome Próprio: do singular ao laço social

Se existe algo que caracteriza de forma contudente a psicanálise em relação a outras práticas que tratam do sofrimento humano é a de olhar para o tratamento do mal-estar do sujeito em sua singularidade, a partir do caso a caso. Sabemos de antemão pela prática téorico-clínica e até mesmo pela experiência vivenciada de ser no mundo, por cada um, que apesar de muitas vezes parecermos idênticos enquanto humanos, enquanto tendo por exemplo, o mesmo nome que nos identifica e pelo qual respondemos, a mesma genética, não somos absolutamente iguais. E se em alguns momentos parecemos iguais como é o caso das nomeadas almas gêmeas, em outros, as diferenças insitem em aparecer, e em algumas situações, principalmente as de tensão, de forma gritante, apontando a partir do lugar da pluralidade, de dois ou mais que fazem um, de um coletivo que costuma apagar as particularidades na experiência de grupo, para um lugar outro, um lugar de singularidade, ou seja, a maneira própria e única pela qual cada um se reconhece no mundo.

Podemos também pensar por aí a questão do nome próprio, já que se trata de uma referência inicial entre os humanos. Enquanto tal, todos nós recebemos um nome, todos somos nomeados, para que no percurso enquando seres da linguagem possamos nos reconhecer e nos diferenciar a partir do nome que nos foi dado por aqueles que nos acolheram e, na medida em que nos reconhecemos e nos representamos a partir do nome que nos identifica, nomeação provinda do campo do Outro, do campo da linguagem, podemos dizer que, se por um lado buscamos identificações que dão a esse nome um corpo, uma significação consistente, por outro, a singularidade pode brotar nas questões sobre ess próprio nome voltadas para si e para o outro expressadas tanto nas relações familiares quanto na clinica: Porque tenho esse nome? O que isso quer dizer? Por que não gosto do meu nome? Ou mesmo: Não poderia ter outro nome? Por que gosto tanto de ser chamado pelo nome? São questionamentos próprios dos seres falantes que se perguntam a partir do nome próprio sobre si mesmos e sobre o que lhes representa, e em última análise, sobre aquilo que psiquicamente lhes constitue. A relação com o nome próprio se incia desde a mais tenra idade, já na experiência escolar infantil os alunos são incentivados a reconhecer os seus objetos a partir do seu nome nas etiquetas e assim passam a se relacionar de forma próxima com o conjunto de letras ali presentes e que o representa. Muitas pessoas desde cedo, começam a questionar sobre o seu nome. De onde vem esse nome? Por que tenho dois nomes? Quem escolheu esse nome para mim e por quê? O Que ele sigifica? Um nome próprio sempre vem acompanhado de uma história que aponta para um desejo de um outro em relação a aquele que foi nomeado. Perguntas que mais parecem enigmas a serem decifrados que falam sobre o lugar e o entorno de onde esse sujeito se constituiu.

Não é incomum que desde cedo, esse(s) significante(s) retirado(s) do tesouro dos significantes no campo da linguagem, por aqueles que acolheram o bebê humano seja a fonte de vários enigmas para o sujeito, levando-o muitas vezes a uma verdadeira investigação sobre a origem e história do seu nome, assim como a sua significação. Um nome que pode ser o mesmo do tio ou da tia, do avô ou da avó ou mesmo do pai ou da mãe. As descobertas podem levar a uma identificação ou a um desagrado e até mesmo a um mal-estar fazendo inclusive que muitas pessoas venham a utilizar um nome postiço e em outro caso, recorrendo a mudança de nome por meios legais. Conheço uma história que foi me contada certa vez de alguem que não gostava do seu nome por ser uma homenagem dada a um tio falecido que tinha o mesmo nome. Fato suficiente para que o sujeito pudesse se recusar a utilizar e a se representar a partir desse nome pelo motivo de sempre associar o seu nome com a morte do tio, que para complicar havia sido trágica. Isso fazia com que ele adotasse o seu segundo nome já que tinha um nome composto.

Lacan, no seminário 9, seminário sobre a identificação, vai nos alertar sobre a importância do nome próprio, sobre a importância que tem em toda a análise o nome para o sujeito e vai ressaltar que a relação do sujeito com o seu próprio nome nunca é de indiferença. O que é um nome próprio? Nesse seminário Lacan vai trazer o conceito do nome prórpio como um elemento destacado para demonstrar a relação da identiicação que o sujeito passa a estabelecer com um traço. Dizendo em outras palavras Lacan vai dizer que é na relação que o sujeito estabelece como o seu nome próprio que se revela um tipo de identificação e nesse caso, a identificação compreendida como uma operação estrutural que faz parte da constituição do sujeito do inconsciente e da sua relação com o significante vinculando-se dessa maneira ao conceito de traço unário. Lacan vai dizer que se trata nesse caso de uma elaboração sobre a identificação do sujeito “ao traço unário do Outro”. E o que quer dizer isso? O que isso tem a ver com o laço social? Falaremos dessa questão em um próximo texto!

*Antonio Roberto da Silva é psicanalista, membro da Maiêutica Florianópolis Instituição Psicanalítica, integrante do Grupo CRIVA Brasil, fundador do Projeto Social Polis Care em Santa Catarina, um projeto que envolve diversos profissionais, psicólogos e psicanalistas que ampliam o atendimento psicológico direcionado para estudantes e pessoas em situação de vulnerabilidade social nas cidades de Florianópolis, São José, Palhoça e Criciuma.

Atende como psicanalista em clínica particular e também pelo Projeto Social nas cidades de São José, Palhoça.

Coordena grupos de leituras comentadas dos textos freudianos e lacanianos na modalidade on line pelo Espacio Psi.
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Projeto Social Polis Care: Whatsapp(48) 99603-8856
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