Há 71 anos, Palhoça entrava para a história nacional e mundial com a queda de um avião que se chocou com o Morro Cambirela, vitimando 28 pessoas, entre passageiros e tripulantes.
No dia 6 de junho de 1949, uma segunda-feira, como de costume, levantava vôo do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, com destino final Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, com várias escalas, um avião Douglas DC-3, C-47, do 2º Grupo de Transporte (2º GT), da Força Aérea Brasileira, o FAB, matrícula 2023.
Decolou do RJ as 7:14min e chegou a São Paulo, a 1ª escala, às 8:50h. Na capital paulista embarcou mais um passageiro. Seguiu com destino a Curitiba, a 2ª escala, onde embarcou outro passageiro. O C47 aterrisou em seguida no aeroporto Hercílio Luz, em Florianópolis, às 13:30 min, onde embarcaram mais dois passageiros.
O avião da CAN (Correio Aéreo Nacional) fazia essa viagem rotineiramente.
Modelo do avião envolvido no acidente: Douglas DC3
De Florianópolis iria para o aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. Levantou vôo de Floripa às 13:50min e de acordo com o BM (Boletim Metereológico) da época, as condições eram bem adversas. Mesmo assim, o avião decolou e seguiu seu destino, como sempre fazia. Às 14:00h o comandante da aeronave, 1º tenente aviador Carlos Augusto de Freitas Lima, comunicou à torre de controle que teria de navegar por instrumentos devido as más condições do tempo.
Esse foi o último contato com os controladores de vôo de Florianópolis. Minutos depois, o avião se chocaria com o morro Cambirela, ponto culminante da cidade de Palhoça e que, a partir deste evento trágico, passou para a história do Brasil e do mundo como o local do maior desastre aéreo do Brasil até então. A aeronave, a princípio, ficou desaparecida por algumas horas, pois não se comunicava com os controladores e também não tinha chegado à capital gaúcha.
Hélice do Bimotor que se chocou contra o Cambirela. Créditos ao acervo do Colégio Catarinense.
Quem localizou os destroços do avião foi o capitão aviador Délio Jardim de Mattos, na manhã do dia seguinte, sobrevoando a região num outro avião Douglas, que comunicou por rádio o achado, confirmando a queda.
Délio Jardim de Mattos viria a ser anos depois Ministro da Aeronáutica, nos governos de Ernesto Geisel e João Batista Figueiredo.
Como foi o resgate
As equipes de resgate levaram 27 horas para chegar até o local do acidente, a montanha tem 1039 metros de altitude, no município de Palhoça, Santa Catarina, além de ser de difícil acesso até os dias de hoje.
A bordo estavam 13 recrutas, nove civis (incluindo quatro mulheres) e duas crianças, e um grupo de seis tripulantes.
As equipes de busca levaram três dias para resgatar todos os corpos.
Arnoldo Leonel, 87 anos, e Ivanilde Botelho, 82, possuem uma história muito mais profunda com o Cambirela.
Eles lembram do trágico acidente de 1949, com um avião do (CAN)Correio Aéreo Nacional, da Força Aérea Brasileira, que matou 28 pessoas.
Seu Arnoldo ajudou na retirada dos destroços do avião. Ele conta que, naquele dia, havia uma chuva miúda, muita cerração, e ninguém enxergava nada quando ouviram o estrondo do avião batendo na encosta.
— Veio gente aqui pensando que ele tinha caído no nosso pátio. No outro dia de manhã, aquilo lá estava tudo estendido feito varal de roupa, e a gente viu que era um avião. Veio Marinha e aquela turma toda. Meus irmãos foram convocados para ajudar e eu fui de metido — lembra, com detalhes.
— E disseram: quem quiser alguma roupa pode pegar. Teve gente que pegou daqui, pegou dali. Eu não peguei nada. Depois disseram: agora é hora de pegar os defuntos. Aí eu me mandei! Quando chegou cá embaixo, eles estavam prendendo quem trazia roupa. Dizem que uns cortaram dedos dos passageiros para tirar os anéis. Quem comprasse relógio naquela época, com certeza era do avião — revela seu Arnoldo, que chegou a ter um pedaço da cauda da aeronave em casa, mas diz que a peça estava atrapalhando e por isso jogou fora.
O resgate levou 27 horas para encontrar o local. E aí diz a lenda que saqueadores chegaram antes do socorro.
— O fato é que quando alguém aparecia com uma joia ou um relógio novo naquela região, diziam que era do resgate, que foi saqueado.
Criou-se um folclore, um tabu, e muitas famílias que têm peças da época evitam falar sobre isso — conta o professor e museólogo Gelci José Coelho, o Peninha.
Silvio Adriani Cardoso escreve livro que conta a história do acidente que foi consideredo o maior desastre aéreo do país na época.
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Fonte: Hora de Santa Catarina.